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O QUE É PARENTAGEM DE APEGO?

Por Jan Hunt, Psicóloga Diretora do "The Natural Child Project"

Parentagem de apego, em termos simples, é confiar no que diz nosso coração. E se fizermos isso vamos descobrir que confiamos na criança. Confiamos nela assim:

  1. Confiamos que ela esteja fazendo o melhor que pode, considerando-se toda a experiência que já teve até aquele momento.
  2. Confiamos que embora ela seja pequena em tamanho, ela é um ser humano tão completo quanto nós e merecedora como nós de ter suas necessidades levadas a sério.
  3. Confiamos que ela nasceu inocente, amorosa e confiante. Não precisamos "moldar sua personalidade", ensinar que a vida é dura ou treiná-la para ser uma pessoa amorosa - ela já nasceu assim e só precisamos celebrar, apoiar e nutrir essa disposição.
  4. Não temos que lhe dar lições de vida - a vida fornece suas próprias lições e frustrações.
  5. Reconhecemos que - se soubermos escutar - nosso filho nos ensina de um modo muito bonito o quê é o amor (1).
  6. Compreendemos que se a criança for "mau-comportada", em vez de reagir a sua atitude devemos sempre investigar o que está acontecendo em sua vida: que problemas, frustrações ou sustos, confusões ou situações difíceis ela enfrentou recentemente. Também precisamos investigar se não fomos nós que, intencionalmente ou não, provocamos essa situação. É nossa tarefa sermos pais sensíveis e satisfazermos as necessidades de nossos filhos; não é tarefa dos filhos satisfazer a nossa necessidade de crianças quietinhas e perfeitamente bem-comportadas.
  7. Compreendemos que é injusto e irreal esperar que uma criança tenha um comportamento exemplar o tempo todo; afinal, adultos também não conseguem fazer isso. Mas por trás de todo o castigo está implícita a expectativa de que a criança pode e deve comportar-se exemplarmente o tempo todo; não há liberdade de ação.
  8. Percebemos que o assim chamado "mau-comportamento" nada mais é do que a tentativa de uma criança comunicar necessidades importantes da melhor forma que pode, em vista das circunstâncias e de sua experiência anterior. "Mau-comportamento" é um sinal de que necessidades importantes foram negligenciadas - por nós ou por outras pessoas na vida da criança. Não devemos ignorar esse comportamento assim como não devemos ignorar um alarme de incêndio. Devemos ver o "mau-comportamento" como uma oportunidade de reavaliar as nossas próprias atitudes, de entender as necessidades de nossos filhos e de satisfazer essas necessidades da melhor forma possível.

Como Albert Einstein escreveu: "por trás de cada dificuldade há uma oportunidade". Isso se aplica a qualquer situação, mas é ainda mais verdadeiro na relação entre pais e filhos. Por exemplo, se uma criança atira uma bola no meio da rua, essa é uma oportunidade de lhe ensinar medidas de segurança, treinando-a para situações semelhantes no futuro. O pai poderia pedir ao filho que jogasse a bola na rua de propósito e viesse chamá-lo para contar o que aconteceu. Desse modo ele aprenderia uma lição verdadeira: é o pai quem precisa passar mais tempo ensinando segurança e não a criança quem deve de algum modo saber o quê fazer, quando é evidente que não sabe. O castigo é a reação mais nociva: é injusto, desconcertante, confunde e distrai a criança do aprendizado necessário. Em vez disso deveríamos ensinar a criança na hora, com delicadeza e respeito. Esse é o melhor modo de ensinar.

A parentagem de apego permite que a criança aprenda a confiar em si mesma, compreender a si mesma e tornar-se capaz de aproveitar o tempo de sua vida adulta com criatividade e sentido, em vez de gastar seu tempo lidando com as feridas da infância de um modo que possa prejudicar a si mesma ou aos outros. Um adulto que não precise resolver seu passado pode viver plenamente o presente.

Lembrando a Regra de Ouro, parentagem de apego é criar um filho do modo como gostaríamos de ter sido tratados na infância, do modo como gostaríamos que todos nos tratassem hoje e como queremos que nossos netos venham a ser tratados. Com a parentagem de apego, estamos dando um exemplo de amor e confiança.

Nossos filhos merecem aprender o que é a compaixão e aprendem isso principalmente pelo nosso exemplo. Se nossos filhos não aprenderem conosco a ter compaixão, com quem vão aprender? O ponto de partida é que todas as crianças se comportam tão bem quanto são tratadas - por seus pais e por todas as pessoas em sua vida.

Elliot Barker é um psiquiatra canadense, diretor da Sociedade Canadense para a Prevenção da Crueldade contra as Crianças (Canadian Society for the Prevention of Cruelty for Children) . Ele define dois aspectos da parentagem de apego:

  1. Querer e ser capaz de se colocar no lugar de seu filho para identificar corretamente os seus sentimentos.
  2. Querer e ser capaz de tratar seu filho de um modo que leve esses sentimentos em conta.

Resumindo, parentagem de apego é amar e confiar em nossos filhos. Se formos capazes de fazer isso, eles serão capazes por sua vez de confiar em nós, confiar nos outros e ser pessoas confiáveis eles mesmos. O educador John Holt já disse que tudo o que ele escreveu pode ser resumido em poucas palavras: "confie nas crianças". Esse é o presente mais precioso que nós podemos dar a nossos filhos.

 (1) Veja 'The Little Goo-Roo' de Jan e Tracy Kirschner ( Atlas Press, 1997).

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