Por Jan Hunt, Psicóloga Diretora do "The Natural Child Project"
Uma mãe escreveu recentemente para minha coluna de aconselhamento que estava tendo "brigas de poder" com sua filha de quatro anos. Embora ela tenha fornecido vários detalhes sobre a menina, o mais útil foi que um irmãozinho nasceu há sete semanas.
Um bebê de sete semanas exige muito tempo e cuidados. Os irmãos certamente vão receber menos atenção de seus pais do que antes de sua chegada. Por melhor que os pais preparem as crianças, a mudança é brusca e abrangente. Um dia mamãe estava grávida, no dia seguinte o bebê chegou.
Se o bebê pudesse de alguma forma vir aos poucos - se ele ficasse por uma hora no primeiro dia, duas horas no dia seguinte e assim por diante - seria mais fácil para os irmãos se adaptarem à mudança gradual na quantidade de atenção que recebem dos pais. Mas os bebês chegam de uma vez só e as outras crianças precisam dar o melhor de si para se adaptar a essa súbita redução no tempo, energia e atenção de seus pais.
Cabe a nós compreender essa situação do ponto de vista dos filhos. Quanto melhor compreendermos a inveja e a decepção inevitáveis dos irmãos, mais fácil será satisfazer sua necessidade de atenção. É um desafio quando os irmãos exigem ainda mais atenção do que de costume, exatamente no momento em que os pais estão menos disponíveis. Não é uma tarefa fácil dar mais atenção a um filho mais velho num período em que nos encontramos tão cansados. Nossa própria adaptação ao novo bebêé muito brusca.
Gostaríamos que a criança mais velha compreendesse a situação do nosso ponto de vista e que exigisse menos a nossa atenção, enquanto o bebê fosse pequeno. Mas as coisas não são assim. Não é justo, realista e nem produtivo esperar que uma criança seja capaz de adiar suas próprias necessidades urgentes de amor e segurança. Cabe a nós compreender suas necessidades. É através de nossa empatia que a criança aprende a ter empatia pelos outros - inclusive por seu novo irmãozinho ou irmãzinha.
Como sempre, essa é uma questão de confiança. Precisamos acreditar em nosso filho. Precisamos compreender e acreditar sinceramente que ele está expressando suas necessidades legítimas do modo mais amadurecido possível para seu nível de desenvolvimento e nas circunstâncias atuais. Se castigarmos as crianças por se expressarem elas não serão capazes de passar para modos mais amadurecidos de expressar suas necessidades e sentimentos. Como o educador John Holt adverte, "quando amedrontamos a criança, bloqueamos totalmente seu aprendizado".
Precisamos encontrar amor em nosso coração para entender uma criança obrigada a uma adaptação tão súbita e difícil. Mas como uma mãe que já está estafada com o nascimento de um bebê vai ter energia para lidar com a rejeição e a inveja de uma criança maior?
Alimentação e repouso adequados, antes e depois do parto, podem fazer uma diferença considerável em nossa capacidade de lidar com a adaptação de um filho maior - e com a nossa própria. Dedicar o tempo suficiente para preparar a criança para o novo irmãozinho - ouvindo pacientemente, respondendo a todas as perguntas, mostrando livros informativos e passando algum tempo com bebês de outras famílias - tudo isso pode ser útil. Mas o mais importante é a nossa capacidade emocional para amar, respeitar e confiar em cada criança. Essa capacidade provém do amor, respeito e confiança que recebemos em nossa própria infância - e assim o ciclo continua.
Como podemos dar mais a nossos filhos do que recebemos em nossa própria infância? Isso é um dilema e resolver esse dilema é nossa tarefa mais importante como pais. Pode ser difícil - mas somos seres pensantes. Aprendendo com pessoas que tenham experiência e consciência - e parando para pensar - podemos quebrar esse ciclo. Essa é a tarefa que temos pela frente.